quarta-feira, 27 de julho de 2011

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27/07/2011 08h25 - Atualizado em 27/07/2011 08h46

Brasil Afora: jogador do Perilima, aos 63, teme fim da carreira e do clube

Sem disputar uma partida oficial desde 2009, clube paraibano busca verba para voltar a jogar. Pedro Lima lamenta possível imposição de parceiros

Por Diego Rodrigues Rio de Janeiro



Seu Pedro no estádio do Perilima (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)
Seu Pedro, fora de campo, mas apoiando o seu
clube (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

Pedro Ribeiro Lima não é nenhum craque - como costuma dizer - nem chega perto dos mil gols na carreira, muito menos é um jovem com futuro promissor. Pelo contrário. Com 63 anos completados na última quinta-feira, ele é dono, técnico e centroavante do Perilima (Pedro + Ribeiro + Lima), clube de Campina Grande, na Paraíba. Detalhe: tem apenas um gol na carreira, contra o Campinense, de pênalti. Jogador profissional que se diz o mais velho do mundo, ele precisa conviver também com o status de ser o “destaque” do pior time.

Fundado em 1992, o clube foi profissionalizado em agosto de 1998 e estreou em uma partida oficial contra o Santos de João Pessoa, no empate por 1 a 1. O currículo, aliás, não é dos melhores, o que levou ao status de um dos times com desempenho em campo menos bem-sucedido. Sem nenhum título profissional, a Associação Desportiva Perilima se orgulha dos cinco vice-campeonatos da Segunda Divisão do Paraibano - sendo um deles disputado com a participação apenas do Perilima e mais um clube -, que garantiram o acesso. Em 127 jogos oficiais, foram 13 vitórias, 15 empates e 99 derrotas. Para piorar, o time levou 416 gols e marcou apenas 107.

- Tentamos ser um time bom, mas ultimamente não temos dinheiro para recrutar os melhores jogadores e pagar - disse Pedro Lima, conhecido como Seu Pedro.

Treinando em média de uma a uma hora e meia por dia em um parque da cidade, que ele mesmo diz ter até caixa de areia para realizar circuitos físicos, Seu Pedro mantém a forma, ainda disputa peladas, mas teme por ter de pendurar as chuteiras. Isso porque, se realizar o sonho de encontrar algum investidor, pode ser forçado a não jogar para não prejudicar a equipe.

- Possíveis parceiros não são tão favoráveis a minha presença em campo. Mas minha vontade é de poder continuar jogando. Não vou correr como o cara mais novo do time, mas com força e o desejo de estar em campo. Sei que aguento os 90 minutos. Não posso prometer produção boa, porque nunca fui técnico, sou voluntarioso (risos). Quem é técnico já nasce com o dom - disse, quase em forma de apelo.

time do Perilima  (Foto: Reprodução)
Pedro posa para foto com o antigo elenco do Perilima, que se desfez por falta de recurso (Foto: Reprodução)

Segundo Seu Pedro, sua saúde está bem melhor que há 12 anos, quando fez seu primeiro contrato profissional, com aval do cardiologista, que também assinou o vínculo do dono do time com seu próprio time.

- Para não morrer do coração, achei melhor fazer o contrato para me distrair. Veio a ideia, trouxe divulgação e hoje sou viciado em exercício físico. Não sinto dores nas articulações mais, diminuiu o problema de gastritre, que tinha desde os 30 anos ... - contou Seu Pedro, que, para não ter problemas ao assinar contrato com o seu próprio clube, entregou a presidência ao seu filho Emanuel dos Santos Ribeiro.

Dívidas e mais dívidas

O jogador sessentão, de sorriso fácil, só fecha o semblante quando o assunto é a fase atual da equipe. Sem investidores, o clube deve cerca de R$ 12 mil à federação paraibana, e, por conta da dívida e falta de recursos, não disputa a Segunda Divisão do Paraibano desde 2009. A participação há dois anos, aliás, não foi das melhores: última posição geral da competição.

A grande esperança era o recebimento dos recursos do Gol de Placa, programa do governo. O projeto funciona com verba de empresas contribuintes de ICMS que investem no desenvolvimento do futebol profissional. Mas, segundo o site do governo paraibano, o programa contempla os clubes que disputam a Primeira Divisão do Estadual, o que não é o caso do Perilima.

O clube, então, passou a depender da ajuda de fãs - isso mesmo, fãs. A história do Perilima chamou a atenção da imprensa nacional há mais de dez anos e, desde então, Pedro Lima virou pop star, o ícone de marketing do Perilima, angariando adeptos. Seu Pedro apareceu até na televisão (veja no vídeo acima).

- Não tinha o pensamento de jogar. Em 2005, o time que eu esperava dar show perdeu de 5 a 0. Aí eu vi que ia levar muitas lapadas e fiz meu contrato para me divertir no meio deles.

A ajuda

jornal do Perilima com foto do Seu Jorge (Foto: Reprodução)

Seu Pedro e o Perilima em destaque na imprensa
local (Foto: Reprodução)

Dono de uma fábrica de sordas, uma espécie de bolachas de trigo e rapadura, Seu Pedro utiliza o espaço que dispõe na empresa como sede do clube. Em partidas oficiais o time mandava seus jogos no Estádio Amigão. Mas, apesar do esforço, os números não ajudam.

Nem por isso desanimou os sordados, alcunha da torcida. A principal ajuda, no entanto, surgiu do Orkut. A comunidade Futebol Alternativo, repleta de membros que se interessam por times de menor expressão, decidiu colaborar. Na primeira semana, foram R$ 1.400 doados. Mas a procura diminuiu. Hoje, a principal fonte de renda vem da venda das camisas, que custam R$ 60, seja de goleiro ou jogador. Com a confirmação da venda de 45 camisas 5 (em alusão ao número utilizado por Pedro), serão arrecadados R$ 2.700.

Quem doar acima de R$ 100 ganhará uma das camisas doadas por Seu Pedro. Com R$ 20, terá direito a um nome para participar do sorteio. A partir de R$ 40, serão dois nomes.

- Em 2006, durante um jogo da Segunda Divisão (do Paraibano), o Auto Esporte, meu time de coração, fez 7 a 0 no Perilima e achei legal o Seu Pedro jogando. Tirei foto com ele, e, a partir dali, passei a admirar o clube - explicou Láercio Ismar.

Laércio é fã do Perilima e o principal articulador das doações e envio das camisas. Radialista, ele atualmente não exerce a função. É designer, mas segue apaixonado pelo futebol. E já passou por situações complicadas com colegas que se comprometeram a ajudar:

- Logo na distribuição da primeira remessa, um amigo que me ajuda na distribuição tomou uma multa (R$ 130) porque estacionou em local indevido. Mas nunca reclamou de nada. Ele mesmo falou que já ficou uma semana com a camisa do Perilima. Fora isso, creio que gastamos em torno de R$ 50 por mês (R$ 300 até hoje) a mais do próprio bolso com frete. Fora gasolina.

camisas do Perilima  (Foto: Divulgação)
Os dois uniformes do Perilima. O segundo foi
inspirado (Foto: Divulgação)

Ele foi o responsável por criar também o blog ajudeaperilima.blogspot.com. Outra fonte de renda surgiu da venda de um espaço na camisa. Foram definidos os preços para cada local, que variam de R$ 50 a R$ 200, uma taxa anual (que pode ajudar no projeto da base). Um empresário de Brasília investiu R$ 1.000 para que as camisas fossem fabricadas e tem o nome de seu site estampado na parte mais nobre do “manto” do Perilima.

O problema é que a ajuda não cobre o prejuízo acumulado até hoje. Além disso, Pedro Lima está proibido pela família de retirar dinheiro da fábrica de sordas e investir na paixão pelo clube.

- Minha família, que era para ser mais adepta, dizer que sou o jogador mais velho, me deixou sozinho.

Sem os recursos da fábrica, ele já chegou a contar até com a ajuda dos próprios jogadores. Apostando na vontade dos atletas de aparecerem no cenário nacional, Seu Pedro negociou um acordo: eles não teriam salário e jogariam pela vontade de seguir na profissão.

- Ninguém ganhava nada, foi na base da cooperação. Combinamos que, se conseguíssemos coisas boas, tudo seria dividido com todo mundo. É um risco. Mas esses jogadores se comprometeram a pagar e era uma maneira de disputar uma competição. Teve jogador que pagou além dos R$ 400 (taxa de inscrição), porque nem todos tinham dinheiro. Alguns deram, outros não, e tive que deixar débito na inscrição acreditando que arrumaria dinheiro. Mas o time não fez uma campanha boa e fomos deixando o nome do Perilima cair - disse, lembrando que é o único jogador com contrato em vigor com o clube.

Fora os salários, é necessário pagar a taxa de R$ 400 por jogador à federação, além das despesas para realizar uma partida de futebol, que, segundo Seu Pedro, varia de R$ 2 mil a R$ 5 mil. Isso sem contar hospedagem, material de treino, medicamento...

O erro


No meio de idas e vindas do Perilima na Primeira Divisão, Seu Pedro assume o erro: não criar concentrações. Durante cerca de 40 minutos de bate-papo, ele repetiu ao menos cinco vezes que tudo hoje seria diferente se não tivesse falhado no planejamento do time quando existia dinheiro em caixa para investir.

- Em 2009 arrisquei sem dinheiro mesmo e os jogadores pagaram a taxa. Mas se engana quem acha que o futebol de pelada vai ser suficiente. Em campo, é outra coisa. Aí fiz uma Segunda Divisão sem chance de subir, peguei uma chave com menos jogos para ter menos despesas... Se você paga, pode exigir com mais firmeza. Mas meu grande erro estratégico não foi esse, foi quando tinha um time brigador, mas que não se concentrava para fazer economia. Eles não eram ruins, mas passavam a noitada sem o respeito ao outro dia. Às vezes isso acaba repercutindo no rendimento em campo. Era um time para brigar com Treze e Campinense.

Na época, Seu Pedro recebia dinheiro como forma de patrocínio de uma distribuidora de combustível. Sem sucesso em campo, perdeu o investimento, ficou sem dinheiro e chegou a vender seu carro, uma picape S10.

Aposta na garotada

Para não ter frustrações futuras, o sessentão agora quer apostar na base, que poderá treinar em um campo em Mangabeira, bairro de João Pessoa. Se continuar impossibilitado de jogar o Paraibano, vai recrutar jovens de Campina Grande e torcer para revelar um craque do futebol brasileiro que movimente seu caixa.

Se dará certo, só o tempo dirá. Mas a meninada poderá escutar muitas histórias da aventura de Seu Pedro, que lembra a excursão frustrada da equipe à Bolívia:

- Fui burro. Peguei dois jogadores bons para jogar lá, porque estavam sendo cogitados e treinando há uma semana. A intenção deles era de ficar. Mas perdemos de 2 a 0 para o San José graças a esses jogadores que eram bons. Como não nos programamos bem, e era eu e mais um aventureiro comigo, não foi fácil acertar os outros jogos. Mas posso dizer que meu time já jogou na Bolívia - contou, lembrando que na época não entrou em campo e assistiu à partida da tribuna do estádio, em Oruro.

Quanto às justificativas por ter marcado apenas um gol na carreira...

- Arrisquei muitas vezes em cobrança de faltas. Teve uma que bati no ângulo e o goleiro fez milagre. Aí fiquei só com o golzinho de pênalti mesmo.


http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/07/brasil-afora-jogador-do-perilima-aos-63-teme-fim-da-carreira-e-do-clube.html

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